Podcast Nossa História, Nossa memória

mestre André de Lica: MAESTRIA NA ARTE DO APITO

André Miguel de Santos, conhecido por Mestre André de Lica, assumiu o apito do Maracatu Sonho de Criança, aos 12 anos de idade. Agora já são 10 anos de uma trajetória marcada pelo respeito na arte do improviso e uma das revelações da nova geração.

A desenvoltura com os versos é algo nato. A criatividade adquiriu com o tempo. O uso da métrica e modalidades foram aprimorados no exercício das apresentações. Na convivência com os grandes mestres despertou o interesse pela Cultura popular e a valorizar ainda mais o Maracatu.

A conversa com o mestre André de Lica foi cheia de recordações. Sobre os seus primeiros passos ele relembra do desafio de representar o Maracatu Sonho de Criança e apenas aos 12 anos se destacar pela habilidade em entoar as loas. “Certo dia eu comecei a recitar versos de outros mestres que visitavam a minha casa. Com o tempo fiquei cantando essas coisas. Até que em 1998 se formou o Maracatu Sonho de Criança e ao lado do Mestre Barachinha, dando aquela formação assumi como mestre”, relembra.

Cada mestre tem o seu estilo. Quanto aos versos, pra cada apresentação as rimas são diversificadas e o enredo é improvisado, mas com muita propriedade. Para alcançar essa habilidade André de Lica defende que para se tornar um mestre o “primeiro passo é ter o dom. Hoje os novos mestres tem que ler bastante para fazer os versos. Se você for para uma sambada tem que conhecer o assunto para criar os versos. Muitos dos versos que fazemos são usados depois por outras pessoas”, relata.

A beleza da apresentação é um conjunto de elementos. Destaque para o grupo musical, chamado de terno, que é formado por dois instrumentos de sopro, um trombone, um trompete e o tarol, bombo, cuíca pequena e o gonguê, que são instrumentos cinco de percussão. A harmonia musical entre instrumentos e os versos do mestre garantem a magia do espetáculo.

No período de 2010 e 2011, André estava como mestre no Maracatu Leão Brasileirinho, e no ano seguinte recebeu o convite para ser mestre do Maracatu Pavão Vencedor, ambos em Nazaré da Mata.  No Maracatu Leão Teimoso de Paudalho, na Chã de Guadalajara, passou os anos de 2013/2014 e depois foi para o Maracatu Pavão Misterioso, na Comunidade de Upatininga, em Aliança, onde ficou na agremiação por dois anos.

“Há 10 anos não tínhamos mestres novos, porque não tinha oportunidade. Hoje temos mestres que estão chegando e procurando oportunidade. Quando apareceu a oportunidade eles se destacaram bem rápido. Eu não tive a mesma oportunidade, porque eu passei pelo pequeno para depois chegar no grande. Eles já chegam no grande e já sabem fazer o samba, galope ou samba curto, por exemplo”, destaca.

Entre os anos de 2017 a 2019 assumiu como mestre no Maracatu Leão das Cordilheiras de Lagoa de Itaenga, onde passou três anos.  Atualmente ele é o mestre do Maracatu Estrela da Serra de Açudinho, município de Tracunhaém. 

Contribuindo para a preservação da memória do Maracatu e a sua valorização ele vem se destacando ainda pela promoção a cultura popular através da apresentação de programas de rádio. Para promover um cenário mais amplo para as apresentações dos grupos e mestres passou a desenvolver na Mata Norte o Encontro de Mestres de Maracatu. Espaço também para revelar novos talentos. A disputa nos versos entre os veteranos e os mais jovens sempre foi o perfil mais aguardado pelo público. Ele realizou também o projeto Aula Espetáculo com tema “Tem conto na escola”, em diversas escolas de Nazaré da Mata e Araçoiaba, e com a participação de convidados especiais. 

No mundo do maracatu rural, um dos eventos mais tradicionais é a Sambada. São desafios entre mestres num período de 10h as 5hs, regado de muita poesia e desafios. Para Lica“de tudo que nós fazemos como apresentações, festivais e o carnaval, não se comparam a sambada. A sambada também faz parte da religiosidade. O mestre é premiado ao decorrer da sambada pela sua desenvoltura”.

Com o canto do mestre André de Lica, os brincantes se envolvem no clima e o maracatu rural se fortalece e marca presença na Cultura. O maracatu sempre demonstrou a sua poesia e vem revelando talentos e a dedicação dos trabalhadores do campo e reafirmando a sua história na Zona da Mata de Pernambuco. Quando o Maracatu inicia o corteja uma explosão de arte e de alegria transforma pessoas comuns em brincantes, caboclos, reis, rainhas e mestres. Uma arte que democratiza a população e reafirma a importância desse folguedo para a resistência cultural da região.

Para conhecer mais sobre o trabalho do Mestre André de Lica acompanhe o seu perfil:

Facebook : https://www.facebook.com/andredelicalocutor

Instagram: https://www.instagram.com/andre_de_lica/