A Capital Estadual do Maracatu é um verdadeiro celeiro cultural. Além dos tradicionais grupos, a exemplo do Maracatu Cambinda Brasileira, considerado o maracatu de baque solto mais antigo do Brasil com 103 anos, Nazaré da Mata, município da Zona da Mata de Pernambuco, é referência no segmento musical.
Destaque para as centenárias orquestras filarmônicas Capa Bode e Revoltosa, intituladas Patrimônios Vivos de Pernambuco e que funcionam como uma porta de entrada para a criação musical, revelando grandes maestros, compositores e instrumentistas. Essas instituições têm, além da sua importância artística e cultural, o atributo de ser importantes ferramentas de cidadania e interação social, com a inclusão de jovens na cena musical.
Esses grupos constituem as principais escolas de música instrumental do interior de Pernambuco, profissionalizando instrumentistas de sopro que passam a compor diversas bandas militares e musicais do Estado e com reconhecimento nacional.
A Sociedade Musical Euterpina Comercial Juvenil Nazarena, mas conhecida como Orquestra Capa Bode, foi fundada em 1º de janeiro de 1888, por iniciativa dos membros do Recreio Juvenil Nazareno, formado por jovens comerciários. Posteriormente, passou a se chamar Sociedade Musical Euterpina Juvenil Nazarena, denominação que permanece até hoje.
O maestro João Paulo Ferreira da Hora, conhecido como Maestro Minuto, relembra que para a adoção do nome “Capa Bode” existem algumas versões, sendo que a mais comum afirma que os “seus fundadores separavam um bode que era castrado e deixado para engorda e que no aniversário da banda era servido em comemoração ao evento. Os moradores passaram a se referir aos músicos dizendo ‘lá vão os capas bodes’. Com o passar dos anos o bode deixou de ser servido e tornou-se o mascote”.
O primeiro presidente da Capa Bode foi o Major Abílio Clementino Bezerra. Outros colaboradores para a formação da banda foram Pedro de Souza Pacheco, Joaquim Coutinho Maranhão, José Pacheco e José Inácio de Andrade Lira, este último foi o responsável pela construção da sede, situada à Praça Herculano Bandeira.
Dando suporte ao cenário cultural já se passaram 133 anos, apesar das dificuldades para que esse trabalho permaneça vivo até hoje, o Maestro Minuto desta que o segredo é o amor. “É você se dedicar, querer fazer e perceber que a sua história mudou através da música e que você também pode mudar a história daquela criança através da música”, pontua.
Para o músico Severino Belarmino da Silva, conhecido por Maestro Sapatão, “a história dessas duas bandas se complementam. Desde a década de 70 que estou envolvido com a música em Nazaré da Mata e venho contribuindo para a formação de inúmeros jovens na Zona da Mata, por meio da Banda Revoltosa e trabalhando com a música como formadora de cidadãs”, afirma.
Ele lembra que a origem da Revoltosa está relacionada à união de membros divergentes de outras duas bandas de Nazaré da Mata. Com essa atitude “revoltosa” acabou dando o nome da banda e para a primeira apresentação foram usados instrumentos emprestados para uma apresentação na comunidade Lagoa Seca, em Upatininga- Distrito do município de Aliança, no dia 05 de Novembro de 1914. “Foi uma dissidência política. Saíram os melhores músicos e alguns membros da diretoria. Foi formada uma comissão de Nazaré e foram até Upatininga. Pegaram instrumentos emprestados, graças a influência do padre Marinho e o maestro Joquinha. Em troca, o religioso pediu para eles tocarem na festa do padroeiro do distrito”, relembra o maestro Sapatão.
A partir dessa apresentação foi fundada a Sociedade Musical 5 de Novembro, que foi oficialmente registrada em 14 de Janeiro de 1915. O primeiro presidente foi Francisco Salustiano Correia e o primeiro maestro, João Alves Cantalice, o conhecido Mestre Joquinha.
Na sede da Banda Revoltosa, localiza na Praça Carlos Gomes, Nº 17, centro de Nazaré da Mata, são realizadas várias atividades para a formação musical, direcionadas para crianças e jovens da região. Além dos ensaios, oficinas e apresentações musicais, entre outras atividades. O local também dispõe de um rico acervo com a memória patrimonial formado por instrumentos musicais e documentos que registram a história da banda. No ano de 2008, a Banda Revoltosa passou a executar o projeto Ponto de Cultura Revoltosa, através do Ministério da Cultura e Fundarpe.
A programação para as apresentações da Orquestra Capa Bode e a Banda Revoltosa incluem festejos carnavalescos, desfiles cívicos, encontros de bandas e eventos religiosos. Algo comum as duas orquestras foi a rivalidade. Por muitos anos o clima tenso prevaleceu entre os músicos e admiradores desses grupos. O encontro sempre acabava em confusão, semelhante a rincha entre as agremiações de maracatu. Passados os anos, o clima predominante é o de harmonia. Os componentes se respeitam e mantém a boa convivência que foi conquistada através da música.
Conheça mais sobre:
Orquestra Capa Bode: https://euterpinajuvenilnazarena.wordpress.com/sobre/ https://www.facebook.com/capabodeejn
Banda Revoltosa
https://www.facebook.com/BRevoltosa